terça-feira, 8 de dezembro de 2009
SÓ ESPINHOS
Entorpecida estou a olhar o teu rosto em uma moldura de rosas.
A vida me dera tão pouco...
Fiz de você, o meu maior tesouro.
Você nunca se conformou com o pouco que eu pude te dar...
As roupas usadas que eu ganhava em meu trabalho,
que a princípio você usava com satisfação, não mais lhe servia.
Queria mais...
sonhava alto...
Emprêgo pra ganhar pouco, também não queria.
Meu menino sonhador...
Filho das escapulidas do Dr. Fulano de Tal, meu patrão,
dono da primeira a última palavra, me fez entender desde
menina que eu estava ali para servir, inclusive a ele.
Fiz de você o meu mais intímo segrêdo, pra não perder o emprego.
Você cresceu... e poucas vezes te via,
não mais o encontrava em casa a me esperar com um abraço,
quando eu retornava do trabalho.
Deixei de ser sua família, em cada esquina você tinha um mano...
As vezes te via passar em alta velocidade, em um carro,
que eu nem sabia que tinha comprado.
Na verdade, não sabia nem se carteira tinha tirado...
Aliás, sabia tão pouco de você...
Te acenava e mandava um beijo..Mas você nunca me via...
Ontem ao retornar do trabalho, tive uma surprêsa,
você havia me visitado e lá estava...
Quando se sentiu perseguido...
Foi pra casa que você correu...
A me olhar nos olhos,
enquanto as balas te perfuravam o corpo...
Em meus braços você morreu...
domingo, 6 de dezembro de 2009
PÁGINAS DE ROSA
Estou aqui a rabiscar páginas e páginas de meu caderno,
distraida sem conseguir prestar atenção a aula.
Aproveito a cortina de cabelo pra olhar pra ele, sem ser notada,
desenho corações e escrevo: i love you, te amo eternamente,
eu não vivo sem você... você é tudo pra mim, i love forever.
Ele olhou pra mim, gelei...
acabei de escrever o quê não devia...
ai se alguem pega...
Está vindo em minha direção, meu coração pulsa rápido...
Me pediu a matéria...
Uma engraçadinha acabou de rir de mim,
só porque eu não sei o que é metáfora.
Ele explicou: "Figura que consiste na substituição de uma palavra
por outra em virtude de certa relação de semelhança,
ex. Rosa, a virgem dos lábios de mel."
-Não seria Iracema?
A engraçadinha riu de mim de novo,
esta menina tá de marcação comigo, acho que é ciúmes ou inveja,
sei lá... que importa?
Posso não saber o que é metáfora, mas...
Mas da última vez que saí com ele, ele pediu pra por dentro
e eu respondi não! mêta fora...
Este caderno está ficando cada vez mais comprometedor...
O sinal tocou, até que enfim a aula acabou, aula mais chata!
Se não fosse por ele, eu nem ficaria dentro de sala.
Rosa quer carona?
Lá vou eu de novo...
Aqui dentro, eu só preciso aprender uma única matéria.
Adoro este cheiro de giz que é deixado em meu corpo.
A alta velocidade esvoaça meus cabelos.
Meu uniforme foi parar no banco de trás.
Páginas e páginas de meu caderno,
rasgadas e atiradas ao vento pela janela...
Mãos fortes e cheirosas, apertam o meu pescoço...
Me sinto sufocar, meu coração está parando de pulsar...
Tomara que escolham uma foto bem linda,
para estampar as páginas da conta de água e luz,
na lista de desaparecidos...
O SEGRÊDO DA ROSA
parecem quebra-cabeça, de tão desordenados que estão.
Uma única certeza, vou ser feliz, tudo caminha...
a formatura da faculdade semana que vem, a promoção no escritório e meu amor...
Não é por causa do meu caso com o chefe, que ganhei a promoção,
além do mais, não é caso... é namoro mesmo!
foi mérito, sempre fiz por merecer.
Esta promoção vai me dar um novo rumo na vida, vou sair de casa
e viver este amor em toda a sua plenitude.
A rosa deixada furtivamente em minha mesa, me deu a certeza deste amor.
Hoje é meu aniversário e eu mereço isto...
cansei de manter este amor em segrêdo tanto tempo, nem sei como pude.
tudo começou em uma troca de olhar em uma reunião de confraternização,
ficar pro fim da festa então...
Regada a wisky foi nossa primeira noite, a segunda foi mais sóbria,
com direito a pétalas de rosas sobre o lençol, o cheiro das pétalas
se entranharam em minha pele e eu me senti a própria.
tantas outras aconteceram, sempre davamos um geito pra uma escapadinha.
Como vou dizer ao meu pai que vou sair de casa e que não correspondi em nada
as suas expectativas, logo ele... que nunca me deixou sentir a falta de mãe que perdi quando nasci.
Meu pai é o meu chão e o meu céu.
Como vou dizer que não correspondi em nada tudo o quê sonhou pra mim?
Sempre usei de discrição em meus relacionamentos, mas agora...
Estou com vontade de gritar o seu nome aos quatro ventos, e dizer o quanto te amo.
Choveu a semana inteira, agora parece que as águas vão dar uma trégua,
olho para o céu e me deparo com um lindo presente,
é fantástico! um arco-ìris...
Volto pra casa de decisão tomada, vou contar...
arrumo uma maneira bem sutil pra não magoar o meu velho, mas vou contar...
Não aguento mais carregar este segrêdo.
Na garagem uma surpresa... A quem nesta vida só me deu orgulho...
Meu Deus! um carro... só mesmo o meu pai, entro em casa e em meio a balões
toda a família reunida em festa surpresa, procuro por meu pai e o encontro caído
em meu quarto com minha foto na mão.
Ambulância pelo amor de Deus!
Como aquela foto fôra parar em suas mãos?
Sabia que não tinha de carregar pra casa a lembrança do último feriado.
Junto aos paramédicos eu implorava o seu perdão ou a sua compreensão...
A pressão era alta, e o coração não aguentou tamanha pressão...
Meu pai minha vida... que vontade de morrer juntinho,
eu nunca quis ferir nem magoar ninguém, só queria ser feliz...
A foto corria de mão em mão...
E entre olhares crucificantes, ouvi o quê nunca quiz ouvir...
Mas é uma bichona!
sábado, 5 de dezembro de 2009
MUITO PRAZER... SOU ROSA!
nos pés exibo as bolhas deixada por ela...
depois de uma noite de trabalho.
Uma vontade louca de fumar, mas todos os bares estão fechados,
não passa uma alma viva nesta rua morta.
Que raiva daquele cara!
topou o programa e depois de me bater me apontou a arma e disse que era da polícia.
O filho da puta me fez chupar aquela coisa minúscula que ele se atreve a chamar de pau,
o pior é que eu disse pras meninas que amanhã eu estaria de cabelão, o mega-hair quemarquei vou ter que desmarcar porque o salão não trabalha fiado.
É isso aí... volto pra casa sem grana, com olho roxo e a boca inchada,
aquele filho de cadela me paga...
Ainda bem que eu tenho uma estatura e um corpo que chama a atenção,
consigo ganhar o suficiente pra sustentar a alcolatra da minha minha mãe
e os meus três sobrinhos, a doida da minha irmâ se estrepou, quis bancar a traficante
e acabou presa.
E ainda existem fanáticos religiosos que dizem que eu vivo em pecado e que ganho
a vida fácil, que estou nessa porque quero, tenho fogo no rabo e este mesmo fogo
vai me queimar no inferno.
Ah! se eles procurassem ao menos entender os motivos e ver o cada qual de cada um.
Não ofereço milagres, saúde, emprego e nem paz familiar em troca de dinheiro deixados
em envelopes nas campanhas de igreja.
Ofereço prazer, muito prazer.. sou Rosa!
A cena que acabei de presenciar me deixou de perna bamba,
meu Deus! O quê é isso? a faca esta enterrada até o cabo no bucho da coitada.
Socorro! alguem ajuda!
A viatura de longe vem anunciando a chegada tardia...
Eu, paralizada e suja de sangue junto ao corpo que tentei socorrer.
Ouvia os policiais concluindo que, era mais uma briga de safadas por causa de ponto.
Alguem me perguntou:
- E aí veado qual o seu nome?
-Muito prazer, sou Rosa...
-Está preso.
SOU ROSA...
pelas mãos da mendicância alugada,
tive meu país como padrasto, políticos apadrinharam e tutelaram minha infância.
Sou Rosa, sem sobrenome só Rosa...
Menina de rua, ganho a vida vendendo rosa.
Pés descalçoas, lá vou eu... em noites gélidas a tremer de frio, atormentada pelo medo dos maltratos
tantas vezes sofrido.
Rosa sangrando e sufocada, caída ao chão, em meu corpo as marcas da inocência tirada,
mãos gigantescas e frias sufocaram o meu grito e com violencia abriram minhas pernas,
boca fétida de bebida, com ânsia sugava meu corpo e mordia meus seios recen-desabrochados;
dedos violentos e agéis abriram e entraram em minha intimidade.
O suor brotava torrencialmente de minha pele,
as lágrimas escorriam e empossavam em meu ouvido.
Fui penetrada, com brutalidade rasgada...
Choro baixinho, a ninguém posso contar,
carrego comigo a rosa, o segrêdo e o pavor de quem me estrupou.
Sou Rosa calada...
a olhar as vitrines de doces e balas com a boca a salivar,
e pelas ruas distraída a caminhar,
rosa vermelha minha predileta, sonho com o dia que alguem dará uma rosa para Rosa...
Uma freada e voo alto...
tão alto como meus pensamentos.
Rosa espalhadas no chão e sobre o meu corpo inerte,
rosa vermelha cor de sangue.
Indagam quem sou...
consigo murmurar,
sou Rosa...
fecho os olhos pra nunca mais abrir,
só Rosa.
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